Antes de tomar o próximo gole de café, considere que alguns
dos grãos utilizados para fazer a bebida podem ter sido colhidos na década
passada.
As sacas de café arábica que foram estocadas quando os preços
estavam em queda, em 2013, estão agora saindo dos armazéns e inundando o
mercado com grãos de até nove anos de idade.
Esses grãos arábica, considerados de maior qualidade que o
da variedade robusta, mais amarga e normalmente encontrada nos cafés instantâneos,
estão voltando ao mercado porque, quanto mais tempo ficam armazenados, mais
barato eles se tornam. Os preços pelas melhores variedades caíram o suficiente
para atrair compradores que, normalmente, estariam no mercado à procura de café
de menor qualidade.
O café armazenado por 121 dias depois de certificado pela
bolsa de futuros de Nova York, a ICE Futures U.S., perde meio centavo de dólar
por libra-peso de seu preço. O valor de um café estocado por três anos cai US$
0,35 por libra. Já o desconto de um café de nove anos é de US$ 1,55 por libra,
o que o torna basicamente grátis, já que o preço dos futuros de café arábica
para entrega em julho fechou a US$ 1,392 por libra ontem.
“Existem cafés velhos muito bons que estavam estocados há
anos” e que estão sendo vendidos, diz Edgar Cordero, consultor sênior de
estratégia global da Federação Colombiana de Café.
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Segundo dados de bolsa ICE, no fim de maio, 18% dos grãos
certificados por ela foram de café com mais de três anos de idade, ante 11% em
maio de 2013. Várias torrefadoras de café informaram que não compram grãos com
mais de um ano de idade porque eles perdem o sabor.
Compradores de café dizem que os grãos mais velhos de
arábica são direcionados para torrefadoras de café à granel e de café instantâneo,
e também para empresas que fornecem café a organizações, como hotéis e escolas,
e a máquinas automáticas. Muitas combinam os grãos mais velhos com outros mais
novos ou os torram por mais tempo para mascarar o sabor.
“Você não vai encontrar esses grãos numa Starbucks”, diz
Jorge Cuevas, diretor de café da importadora americana Sustainable Harvest.
“Ele vai para marcas genéricas, que você pode encontrar no nível
institucional.”
A deterioração do arábica em armazéns o torna mais atraente
para certos compradores comerciais que normalmente preferem o grão robusta, de
menor qualidade e mais barato, diz Judith Ganes Chase, diretora-superindentende
da firm de pesquisa de commodities J. Ganes Consulting LLC, sediada em Nova
York.
Além disso, secas nas regiões produtoras de robusta do
Brasil e atraso na produção em países como a Indonésia elevaram em 8,2% os
preços do grão neste ano, o que recentemente reduziu a diferença de preço entre
as duas variedades para menos de US$ 0,50 a libra. Ontem, a diferença estava em
mais de US$ 0,68.
O contrato futuro de robusta para entrega em julho fechou
ontem a US$ 1,613 por tonelada na ICE Futures Europe.
Alguns dos grãos são tão velhos que a maioria dos bancos não
permite que os compradores usem esse café como garantia, segundo uma pessoa a
par das práticas de empréstimos do setor. Grãos com mais de dois anos de idade
normalmente são considerados de pouco ou nenhum valor, diz a fonte.
Esse excedente de café estocado, que agora está em queda,
começou a se formar em 2011. Os futuros de arábica tinham atingido seu maior
preço em mais de 30 anos, a US$ 3 por libra, impulsionados pela oferta limitada
e por um novo apetite por café em países emergentes que tradicionalmente
consomem mais chá, como a China. Isso levou a uma superprodução e a oferta
cresceu justo quando o crescimento desses mercados desacelerava. Em 2013, os
futuros de arábica haviam caído para US$ 1 por libra.
Os produtores preferiram armazenar seu café, em vez de
vendê-lo barato. A idade média dos grãos estocados nos armazéns certificados
pela bolsa atingiu o pico de 853 dias em fevereiro de 2015, 80% maior que dois
anos antes, segundo dados da bolsa ICE Futures. Agora, os produtores estão
começando a desovar esse café, reduzindo a idade média para 648 dias, mostram
os dados da ICE. Ainda é um indicador de café velho, mas a redução da idade
média é sinal de que o produto mais antigo está deixando os armazéns para o
mercado.
A redução dos estoques está ajudando a levantar os preços. O
arábica subiu 12,15% neste ano, tendo atingido um pico de um ano na semana
passada. O Brasil, maior produtor de café do mundo, deve obter uma produção
recorde de arábica na safra 2016-2017, mas usará grande parte dela para
abastecer o mercado doméstico, segundo a Organização Internacional do Café. O
país exportou tanto café no início do ano, quando os preços estavam favoráveis,
que a organização exportadora de café do Brasil, a Cecafé, afirma que o país
precisará usar estoques antigos para satisfazer a demanda interna.
Para um paladar apurado, a diferença entre uma xícara de
café de um ano e de dois anos pode ser notável. Allie Caran, educadora na
torrefadora nova-iorquina Toby’s Estate, usou dois cafés torrados brasileiros
em uma degustação há pouco tempo, um de dois anos e outro da safra brasileira
mais recente.
Os dois foram torrados no dia da degustação, disse ela, mas
era impossível sentir o sabor de “biscoitos de mel, caramelos e avelãs
tostadas” detectado na fazenda onde o café, que agora tem dois anos, foi
colhido. O café tinha o sabor da juta na qual foi ensacado, disse ela. “Não é o
tipo de café que venderíamos.”
Fonte: The Wall Street Journal
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