O aumento no número de celulares contrabandeados, roubados e
piratas vendidos livremente em sites da internet e lojas do Brasil acendeu o
alerta da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), da Receita Federal e
de fabricantes do setor. Dados da consultoria IDC apontam que 2,7 milhões de
smartphones devem ser comercializados no mercado paralelo neste ano, mais que o
triplo do ano passado. A alta de 233% representa o maior percentual em pelo
menos quatro anos. As informações são do jornal O Globo.
Com
isso, o número de celulares irregulares poderá responder por 6% das vendas este
ano no mercado formal, cuja projeção é de 45 milhões de unidades.
Para
especialistas, o crescimento do mercado ilegal acompanhou a chegada de marcas
chinesas no Brasil este ano, como Xiaomi e Huawei, cujos modelos são alvo de
importações ilegais oriundas do Paraguai, principal porta de entrada dos
telefones. Analistas citam a alta nos preços dos smartphones, que subiram 9% no
segundo trimestre na comparação com igual período de 2018, segundo a IDC.
A
consultoria aponta que 85% das vendas desses aparelhos são feitas por meio de
sites. Geralmente, esses celulares não têm o selo oficial da Anatel. Renato
Meireles, analista de mercado de celulares da IDC Brasil, lembra que um
aparelho irregular pode ser bloqueado porque o seu Imei — sigla em inglês para
Identidade Internacional de Equipamento Móvel, um número de registro — não
consta na base de dados oficial do País.
“Os
telefones vendidos no mercado paralelo não têm registro cadastrado na Anatel.
Por isso, na hora em que o cliente tenta colocar um chip, o celular é
bloqueado. Para o consumidor, é difícil identificar se o aparelho é válido”,
diz Meireles.
Bloqueio já atinge 865 mil
Para
o consumidor, um sinal de alerta é o preço muito abaixo do padrão. Um aparelho
como o Redmi Note 7, da Xiaomi, que tem preço sugerido de R$ 1.999,99 no site
do revendedor oficial, era encontrado no marketplace de uma varejista a R$ 999.
Para
chegar ao total do mercado paralelo, a IDC cruza informações da Receita Federal
do Paraguai com exportações de revendedores ao Brasil. A consultoria também
mensura o total produzido pelos fabricantes no Brasil e o volume vendido pelo
varejo nacional.
Estima-se
que os produtos ilegais causarão rombo aos cofres públicos de R$ 2 bilhões
neste ano. Hoje, a carga tributária de um smartphone é, em média, de 25%.
Segundo a Anatel, foram bloqueados 865.099 celulares não homologados entre maio
de 2018 e julho de 2019 no Programa Celular Legal, que visa combater o uso dos
aparelhos ilegais.
O
crescimento desse mercado se reflete no total apreendido pela Receita Federal.
De janeiro a junho, foram 69.815 aparelhos, um aumento de 34,38% em relação ao
mesmo período de 2018. Em valor, o total dessas mercadorias soma R$ 38, 410
milhões, um crescimento de quase 59%.
Segundo
Arthur Cezar Rocha Cazella, coordenador-geral de Combate ao Contrabando e
Descaminho da Receita, esses celulares deixam de pagar Imposto de Importação,
ICMS, PIS e COFINS, além de tributos internos.
Segundo
a Polícia Federal, até 28 de agosto foram apreendidos 3.230 celulares, mais do
que os 3.209 em todo o ano passado. A maioria foi em Mato Grosso do Sul e no
Paraná.
Para
a PF, a entrada destes produtos ocorre por meio de organizações criminosas. “A
marca chinesa Xiaomi está entre os itens mais apreendidos. Menciona-se que o
iPhone também possui alta representatividade no rol de itens contrabandeados”,
informou.
A
Anatel já notificou 83 lojas de comércio eletrônico por venderem celulares sem
homologação. A agência chegou até elas por meio de denúncias dos consumidores.
Ao
serem constatadas irregularidades, as empresas de e-commerce são notificadas
para a retirada dos produtos, e os vendedores (quem anuncia o produto nos
sites), identificados, autuados e alvo de procedimentos administrativos que
podem resultar em multas.
Segundo
Luiz Cláudio Carneiro, diretor de dispositivos móveis da Abinee (Associação
Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), o crescimento do mercado
paralelo ocorre em ritmo superior ao do mercado formal, que está em 6%. Ao
vender menos, as empresas formais perdem competitividade e sofrem com o aumento
de custos.
Nos
sites, os consumidores se queixam de celulares vendidos sem nota fiscal,
carregadores incompatíveis com o modelo no Brasil e especificações erradas.
Diante das reclamações, a ABComm, associação que reúne as empresas de
e-commerce criou um comitê para combater o problema.
Um
dos sites notificados pela Anatel é o Mercado Livre. Procurada, a empresa disse
que cumpre as solicitações da Anatel de retirada de anúncios referentes a
produtos não homologados. E afirmou que “repudia o uso indevido de sua
plataforma e reforça que permanece à disposição da Anatel.”
Fonte: Portal O SUL
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